
Se Jesus multiplicou os peixes e juízes brasileiros conseguem multiplicar seus salários, é óbvio que eu iria render minhas pitangas à base do bland & belo Bad Boy. Chame a fanbase toda, tire o sorvete da geladeira e embarque na rasa e nada convincente teoria de que
Bad Boy é o oposto de todo o discurso grrl power desenrolado no Twitter.
Tentarei positivamente ser o mais (na medida do possível) plausível aos dois lados aqui: o de quem está vendendo a receita de que o lead single do EP 'The Perfect Red Velvet' trouxe um grau agudo de maturidade e couraça à imagem do cargo-chefe da nova geração da SME quanto por quem concorde que o conjunto é um aglomerado de chamarizes mal desenvolvidos para gastar a corja militante da internet. Estejam livres para ler, argumentar e contrabalancear meus dizeres, dado ao incrível espaço de troca de dados da internet. Pois vamos lá:
SME brilhantemente encosta o conceito ao popular como quem derrete solda de chumbo sob a superfície metálica. É muito bonito de se ver que, com o dinheiro e a visibilidade que impõem no mercado, se dão o trabalho de efetivar um serviço bem feito. Não há o que negar, porém as caixas coloridas e câmeras ultratecnológicas podem muitas vezes tirar a compreensão do irrefutável. Como revelado por Hon Don Chul, produtor do reality Produce 101, à revista 'High Cut', a edição visava argumentar uma pornografia saudável. Somos movidos, na teoria Freudiana, por sexo e medo. Por conta disso, sutilidades hedônicas, tal qual inseridas no show, são enganchadas à mercadoria. A música, o CD, o clipe e as garotas, numa realidade duvidosa, são os produtos, e elas devem dançar conforme a canção pede: SEXO VENDE.
É uma demonstração sinuosa de sensualidades que serão apropriadas, por quaisquer linguagens, pelo público. Queira essa sendo emancipação, afirmação de sexualidades e gêneros ou propriamente o eye-candy, o alvoroço do recurso belo, a música não iria fugir de sua área de ataque.
Temos, portanto, dois lados que se convergem: a posição de dominância na canção cunilíngua, em que a garota que conduz a narrativa se faz superior ao garoto no ato; e a mesma narrativa numa imagética de inferiorização, male gaze, em que ela o faz (como se vestem com meias-arrastão e calças de couro, como agem predominantemente adormecidas e incapazes) para degustar o imaginário do comprador.
Bad Boy tem uma composição bastante simples e efetiva, com uma letra que usa do recurso de storytelling ao incluir uma descrição genérica de seus pormenores, mas não sua aparência. Veja:
Há uma descrição conceitual, não física. Esse garoto não possui altura, peso, cor dos olhos ou cabelos. Apenas sabemos que ele é diferente, que se veste como quer e não liga em seus detalhes. Qualquer adolescente prolixo e desleixado se sentirá contemplado nisso. O leitor masculino, estará sendo abraçado por essa música e, por conta disso, pode ser também quem amoleça os corações das meninas que cantam. Como um esquema de pirâmide, as chances são tão boas que não tem como não se encantar. Se é aquilo, estará compreendido. Os hormônios fervem e parabéns: a música é sobre você.[...]Quem é esse garoto?
[...]Seu estilo corajoso é um bônus. Parece que você não liga com o que vestir.
Você fala como se não se importasse, eu gosto disso.
[...]Você é diferente.
Grandes personagens são desenvolvidos com características genéricas de forma que sejam compartilhadas com seu leitor. No caso de uma música, você tem de estar abarcado para poder participar da fantasia. Bad Boy é inteiramente a ilustração grotesca da nova geração de jovens adultos com seus anseios de complementação por desinteresse e a necessidade de uma guiagem por uma figura dominante. Notas disparam alto quando essa figura, acima de tudo, é uma garota bonita e sensual que o quer como é, mesmo que se lermos em voz alta, a pessoa letárgica, deselegante e diferente seja desinteressante.
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imagem simbólica 1: a integrante menor de idade é privada de uma informação sensível. |
O lado bom - e único, na minha opinião - de tudo isso é que no momento em que os fãs acreditam piamente que o videoclipe e a canção trouxeram um amadurecimento à imagem das garotas, então uma resposta obstante e ótima foi espremida da situação. O que não significa que não deva extinguir a malícia, porque haverão ainda aqueles adolescentes suspeitos que abrirão os zíperes das suas calças enquanto dão play no YouTube. Uma coisa não anula a outra, apesar de se esperar com neutralidade que se apeteçam pelo melhor.
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imagem simbólica 2: enquanto a integrante menor de idade é perseguida por uma figura estranha, outra integrante se faz omissa à situação. |
Não acho que seja necessário fazer uma análise frame a frame do clipe depois desse texto todo, especialmente por não ter muito nexo narrativa (há sim uma história girando em torno de Yeri, que tem voz enquanto digita 'eaosndwna' em sua máquina de escrever). Ultimamente criamos o paradigma de que algo denso está nas entrelinhas das entrelinhas. Contudo na indústria cultural de massas é o óbvio que predomina, passando despercebido por estar tão perto dos nossos olhos. Bad Boy nos deixa a refletir. A filmografia conversou e ninguém quis ouvir.
wow , que post maravilhoso e bem escrito , eu sempre fico chocada quando alguém diz conhecer seu idol ou que eles nunca fariam tal coisa , sim um idol pode mostar a personalidade dele aqui e ali, mas nunca vc vai conhecer uma pessoa que literalmente foi ensinada a ser charmosa , carismática e engraçada , sobre o vídeo de bad boy , pra mim aquele vídeo tem nome e se chama fanservice , pode ter uma história , mas ela sempre vai ser sobrepujada por algo , no caso de bad boy é a insenuação lébica eo style sexy que todas tem , pô a joy é bonita , é gata , é gostosa , é , mas tão sexualizando ela demais , (umas das coisas que me choca no kpop é a sexualização das mulheres), no mais , devo dizer de novo ótimo post
ResponderExcluirFico imensamente feliz que tenha gostado do post <3 .
ResponderExcluirAcho que a gente é anestesiado com essas coisas, porque de fato são poucos que um dia vão conhecer os ídolos - e normalmente se decepcionam. Só ver pessoas tão claras com suas personalidades, feito Sulli e IU, serem ateadas ao fogo enquanto quando uma ~Suzy~ ou uma ~Sunmi~ se projetam em clipes unilaterais e impessoais com esquetes esquisitinhos e engraçadinhos são supervalorizadas. A falsa impressão de conhecer - e fazer parte da vida de alguém - move a indústria...
...e a gente é balançado no barco junto. Por fanservice, realities, cartas e fansign, muito provavelmente nos sabotamos para sentir pertencidos. Não é de todo ruim, porém bem esquisito ao pararmos para pensar sobre isso.