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quinta-feira, 14 de junho de 2018

love4eva (feat. Claudia Leitte) não mudou o mundo... que também não precisava ser mudado


A grande barragem reativa que estourou com o anúncio - artístico, prepotente e completamente fora do planeta Terra - de YYXY foi a de que elas carregariam um monólito de maturidade e inovação para o som do grupo. Enquanto na cabeça da internet love4eva seria a possessão do Black Sabbath no corpo de quatro adolescentes de 1,50m, deparar com a realidade da fórmula LOONA, competente e repetida até então, sendo explorada no carro-chefe do álbum trouxe sentimentos incoerentes de frustração dos fãs.


Que som é esse esperado + por que ele não era razoável no debut da unit?

Parte 1. antes de love4eva:

LOONA está no cume sociológico em que a gente precisa reter todo o sentimento do corpo para analisar a realidade por trás da marca. NADA, e digo isso com muito peso nas palavras, lançado pelo grupo foi extraordinário. Mesmo Sonatine e new pecam ao não ter vocal de suporte grandioso a ponto de se equilibrar com o instrumental. O trabalho da BBC é extremamente polido e harmônico, porém no limite da margem de interesse. Por conta disso, essa névoa de superaquecimento esperando um milagre brotar do YouTube é nada senão diminutivo para o próprio fazer apreciativo dos lançamentos. E isso posto, love4eva é incrível - por ser genericamente bom.


A música-alicerce do EP ajudou no rebuliço do público. Eu mesmo perdi quaisquer estribeiras com a nota da aparição de Grimes na música. Quando recebido pelo áudio colado com durex sobre a música pronta, a confusão chegou e calmamente retornou em aceitação, uma vez que, tal qual nas outras músicas, o óbvio foi utilizado para compor o esqueleto da faixa (e do feat.).

Essa é uma pauta que a gente pode matutar exorbitantemente na trilha do grupo, já que há, na tendência das unidades, polarizar e homogeneizar duas faixas que reflitam (e dividam) o que foi feito por suas integrantes. Não muito longe disso, a armação das faixas unicamente tende a conferir esses estados, como os feats. sendo mínimos e não tomando atenção alguma à faixa em seu todo, mas atenuando um leve momento marcante. Por isso, Grimes não faria muito diferente de Kim Lip em See Saw, contudo certamente seria ilha além de uma participação de rap - como HeeJin em Rosy ou HaSeul em Everyday I Love You -, que ganham uma seção, ponte ou quebra, inteira na música; ou interações de longo alcance - feito Chuu & Yves; Olivia Hye & Go Won - que até então não foram chamados de feats., todavia taxados como "cantor & alguém".

Noutro pendão, o primeiro single da unidade TENDE a ser um farofão genérico (love4eva batendo a todos por ser o mais competente entre eles) e a volta das bacurinhas ganha apoteóticas relações maduras e sóbrias. Face-a-face, Love&Live é só a música básica de grupo estreante coreano, que não bate de frente em nexo a Sonatine. Já Girl Front é a besteira ocidental mixada no Fruity Loops, bastante aquém ao Sade-R&B Sweet Crazy Love.

love4eva é, e não esperava ser, nada de diferente. Os compositores têm um registro desse tipo de música, o instrumental no teaser era claro e pontual e, então, qualquer pessoa raspando a cabeça em protesto ao lançamento ser exatamente isso - sem Yves carregando a track com voz grossa ou clipe vermelho satânico - está perdido na vida por não ter lido o óbvio escrito pela empresa (que pelo amor de Deus, deu o nome do álbum de beauty&thebeat).

[refutação da noite: vamos lá, também há muita culpa da BBC que não podemos ignorar. Você pegar um termo que absolutamente ninguém fora de uma subcultura de academia usa: cromossomo neantrópico; dar um nome genial e intragável à unidade, que na hora fecha o ponto com o tão-fora-da-caixinha iamamiwhoami e inventar de trazer Grimes da sua toca de guaxinim pra aparecer na canção só estão aí pra confundir e criar a nuvem de chilique e divulgação autônoma. A bomba é pra ser uma bomba e de fato fazer todo mundo explodir, que condiz com criação de expectativas, só que nem tanto para a crítica pesadíssima que soltaram sobre (quem gostava ou refutava) o resultado do EP.]

Quem esperava que a irmã de Mozart compusesse essa obra obviamente foi macerado com uma lâmpada no reto, o que nem um pouco significa que a música é ruim. Ela é *segurem suas calcinhas* ótima, especialmente por corrigir tudo o que tinha de errado com aquelas que vieram como inspiração e foram totalmente bem-sucedidas na mídia: Gee e Very Very Very.


*kKkkKkkAaaAaaAaaaBOoOoooooOoOoMmmmMmMm*


Parte 2. depois de love4eva:

Minha opinião controversa é a de que não gosto de Gee. Entendo ela e o sucesso, sem deixar de me coçar sobre como a música soa uma demo não finalizada. A falta de um coro maciço, com palavras reais e não uma algaraviada chicleteira conclui sua proposta de ser tão qualquer coisa que é divertidamente espontânea a experiência.



Em outro cargo, Very Very Very não resolve o problema dos gibberish, mas os fazem parecer intencionais ao criar um significado existencial para eles na canção. O problema dela é engatar na onda bizarra de futurismo sonoro que rondou a Coréia entre 2013 e 2016 (rs) para afogar a música sob uma demão de novidade, que tirasse (e efetivamente tirou) quaisquer suspeitas do plágio estampadíssimo de engenharia de produção. Com isso, toda a música é seccionada em múltiplos cubinhos, enjambrados um ao lado do outro para que correspondam a uma linearidade ilusória do som, enquanto a única unidade por ali seja a repetição de vozes. Com vistoria amarga, é como se JYP pegasse os dois extremos conhecidos de SNSD, I Got A Boy e Gases do Efeito Estufa, e mesclasse num líquido não newtoniano, que se torna genial por ser tão absurdamente feito que espanta a atenção de que Very Very Very NÃO É UMA BOA PRODUÇÃO.


Vindo dois anos depois, suficientemente para abaixar a bola e se vingar na mesma medida, o conto de que love4eva é uma readequação de Gee para refletir uma competência e maturidade do produtor, como também instaurá-lo como o que JYP não consegue ser, me parece 200% mais interessante de se acreditar. amorPsmp é diabolicamente lustrada, com jogadas geniais de um design sonoro contemporâneo que a elevam diante da concorrência.

Para quem me conhece no Twitter, em que eu declamo minhas birras adolescentes o tempo todo, sabe o quanto de amor eu tenho por Black Dress, do CLC. Esse é um assunto que provavelmente aparecerá em muitas pautas por aqui em vista de, na minha opinião, ela ter sido o máximo em completude experimental do kpop nesse ano. A canção é vibrante e desde o começo impulsiva como um tiro que não perde a velocidade e ultrapassa todas as paredes a sua frente. Esse jeito de ser em tons maiores, por superposição de sintetizadores é tão conflitante que é capaz de fazer o ouvinte se sentir cansado puramente por ouvir. Sendo má para os ouvidos, ela é, contudo, gigantesca para as órfãs da abstração artística. love4eva, da mesma forma, começa em sua popa por ventania, com o primeiro jato de brass distorcido sendo um murro na sua cara.

Gee e Muito Muito Muito são opostas a isso, dada a primeira começando com uma gradação que abarca o espectador num nino que virará um turbilhão - e confunde a dialética da canção ao apresentar um amor tímido e confessional que se transforma numa bagunça desfibrilante - e a outra num fluxo esquizofrênico de altos e baixos que não são costurados entre si. love4eva, para a alegria das fanfiqueiras, representa desde o primeiro segundo um amor tão frenético e ilimitado que não tem pausa, cuja intensidade é tão proeminente que se torna divertidamente dolorosa.


Arquitetonicamente, ela também não faz feio ao juntar tudo aquilo que falamos antes de usar especialidades dos singles das integrantes para integrar uma noção de reconhecimento individual na música. É por conta disso que algumas bizarrices particulares experimentais ganham propósito no DNA da música: em One&Only o tanto superestimado efeito 3D que foi jogado de para-quedas nos rap hops da Nicki Minaj do novo mundo nada mais é que um efeito de distribuição do som entre canais de exportação (o chamado panning); em love4eva, efeito parecido (todavia não tão austero) é implantado para causar desconforto no ouvinte ao individualizar determinada frase no refrão, que perde a categoria de coro nesse segundo de foque solo. Não é realmente um efeito de PAN, por causa da mixagem mono, mas remete ao momento trash e descontextualizado de One&Only.

Fora isso, o cunho brincalhão do instrumental (elusivo ao menu do Wii Sports) é diretamente associado à aparição de Chuu, só que com aquele gostinho sério de uma realidade alternativa que a gente encontra em Egoist. Nada disso inibe a música de ter seus problemas, afinal de contas se ela fosse tenra do nascimento à morte, não estaria no YouTube, mas na Orquestra Sinfônica de Ouro Preto. O pré-coro é um recorte brusco que não parece ser amaciado o suficiente para estar ali, e entrega nisso uma percepção similar aos cortes e encaixes grotescos de Very Very Very. A produção consegue ser elegante o bastante para mascarar isso, tornando o estranhamento uma normalidade ao repetir, repetir e repetir esse pré-coro até entendermos que assim que as coisas deveriam ser. É um estado simples de agregamento da peça, que emenda a sola do sapato: utilizável e imperfeito.

Mesmo a crítica (que ressoou no restante da blogosfera de quintal) sobre a subtração da presença de Yves na faixa são um pouco incorretas se a gente refletir sobre a integridade do projeto que prima por individualidades sutis e harmônicas que não sejam elípticas ou interpoladas.

A facilidade de como a edição planifica a música é um ótimo trabalho de engenharia sonora que deve ser notado. A ponte explica o crescimento vindo com tempo de maturidade do produtor, que não reflete em aceitação do público ou sucesso da faixa em geral. Muito provavelmente o fator amador é o que torna Gee tão palatável para a época e sua réplica bem construída acabe perdendo o apelo por se parecer (embora superior) com a original.

De olho, 👁👁
GUNHELMET

2 comentários:

  1. Eu não poderia concordar mais quanto a Gee e discordar tanto a Veryx3. Mas love4eva é de fato a reinvenção que melhor destacou os lados positivos de Gee. Sem analisar teorias e matando fãs otários.

    Verborragia WINS!!!!!!!

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    1. Provavelmente fui severo demais criticando mtomtomto, numa satirização complexa na qual eu a considero a melhor (e mais divertida) música do catálogo do IOI, junto com JYP como uma inspiração de compositor. Todavia, acho que tem a ver com certo desencanto crítico ao notar que o que associamos a ele como o melhor é, na maioria, um plágio ou um sample ou uma construção tão presa a uma estética que acaba sendo bom por seguir a linha didaticamente, o que já falamos antes, gastando horas no Twitter.

      A ética, aí, morre quando o resultante é mais próspero que as dores do processo. Ouvindo e gostando (e portanto a classificação de um ótimo encerramento aos singles do grupo), não importa que a carcaça seja meio podre, com uma engenharia defeituosa.

      GUNHELMET

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