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quinta-feira, 4 de setembro de 2025

NMIXX remexe com Pabllo Vittar. Isso aí mexeu conosco?

    
Embora todo prato que chega à nossa mesa deva ser comemorado, não é sempre que uma delícia quentinha é entregue numa daquelas experiências de chefe internacional que gostou tanto da nossa república das bananas que decidiu se trajar de toda brasilidade possível. Espera aí, isso daqui não é pra ser sobre música? Junto ao NMIXX, Pabllo Vittar mexe a panela e entrega um delicioso petisco, que dessa vez não vem para este texto somente como uma analogia frouxa pra engatar parágrafo: MEXE é um acepipe tanto em tamanho quanto na sensação de servir e querer mais!


    A música brasileira sempre esteve situada como pomar de delícias para a cena internacional, que tende a colher os frutos e nos deixar com galhos secos ao não vocalizar nossos criadores ou nossa cultura, por isso tem um gosto imensamente satisfatório que essa colaboração seja feita com NMIXX, um dos poucos grupos a anteriormente ter integrado funk de maneira genuína (ou o mais intencionalmente possível) em seu catálogo. Isso na verdade não é estranho para a empresa criativa por trás do grupo, já que JYP Entertainment, datando a separação do grupo miss A, se mostrou particularmente amistosa em expandir e evidenciar gêneros e artistas (com interesse especial aos independentes e alternativos) na assinatura de seus conjuntos.


    É importante frisar que este lançamento parte de Vittar e por isso o tom naturalista de brincar com a língua e som pertencentes ao Brasil sem alienar a companhia envolvida, o que de forma alguma anula o histórico ou os elogios a serem tecidos para o acontecimento e evidencia duas formas de abraçamento na produção: a intencionalidade de NMIXX para a música e a permissão da imagem de Pabllo Vittar diante da hostilidade midiática sul-coreana.

    Identidade é termo extremamente abrangente quando falado do mundo da performance, porque a atuação de cada pessoa é por si individual, mesmo quando aproximada ou mimetizada a outra pessoa. É por isso que covers musicais podem ser experiências bastante elegantes quando agregam ou desfazem particularidades das canções originais. Neste caso, identidade vale para a produção como um todo. Ela é capaz de representar e individuar aqueles que a gravam?

    MEXE resolve este impasse ao trazer um certo carinho de incluir a presença do NMIXX sem fazer questão de se tornar mais do grupo do que de Vittar. A letra da música é fundamentada em uma ambiguidade referencial no qual Mexer e Misturar serve tanto para enfatizar as ações da música e seu ritmo (o ânimo, a coreografia, a mixagem) quanto para fazer uma chamada ao que e quem são NMIXX, sem obrigar ao ouvinte ter conhecimento prévio. Essa construção é inteligente por manter as rédeas do principal público-alvo destinado pela canção. A música é bem direta em termos de estilo e gênero, com o grande trunfo de justamente transportar a espacialidade do grupo o trazendo para o Brasil, com confetes líricos em português e o charme de uma estrutura, o electrofunk, que não é do pop sul-coreano. É interessante posicionar isso porque o kpop em si não tem muita identidade sonora ou visual. Está mais ligado ao refinamento dos resultados do que à individuação estilística. Por outro lado, a música brasileira é mais sobre estilo do que polidez. Artistas com diferentes orçamentos, equipes e históricos entregam ao mesmo momento intensa qualidade em vastos graus de polimento, porque reflete a diversidade da nossa indústria – da gambiarra à alta sociedade – sem questionar o artístico da obra e seus participantes.
Capa do single MEXE. Fonte: ML Genius Holdings, LLC. Disponível em: https://genius.com/Pabllo-vittar-and-nmixx-mexe-lyrics. Acesso em: 04 set. 2025.

    Equidistante, a comunhão entre um grupo de grande escalão com uma artista Drag Queen é ainda mais impressionante visto o histórico dos conglomerados sul-coreanos de usar a pauta feminina, LGBTQ+ e erotismo para gerar discurso e eventualmente invisibilizar as referências que encorpam o vocabulário criativo da produção quando a apreensão pública implode em intolerância. Mesmo JYP Entertainment tem uma relação de não saber lidar com esse choque reativo, como na tentativa de desaparecer com a má recepção de Fantasy, da cantora Fei, em que a sensualidade impressa no clipe e coreografia circulou em repúdio inflado na esfera crítica. É até curioso de se pensar que toda a melhoria de direção criativa da empresa parece ter vindo justamente com o fim do miss A. Com MEXE não tem como fugir e talvez isso demonstre a responsabilidade que faltou anteriormente na empresa. É a colaboração como um todo, salientada pelas coxas de avestruz de Pabllo Vittar emolduradas por uma microssaia. Embora o Brasil não seja exatamente o contraste esperado para esta conversa, há uma significativa censura sul-coreana que afeta a aprovação que projetos como este saiam do papel e se perdurem nos holofotes.

    O ouvinte brasileiro não precisa conhecer NMIXX para se envolver com a música e isso é particularmente expressivo para a capacidade das músicas de Pabllo fermentarem o gosto público até chegar a época das grandes comemorações de fim de ano, férias e Carnaval, enquanto abre portas para a audiência exterior consumir suas criações. MEXE consegue atender as cartadas diplomáticas exigidas por essa parceria, com o caráter cômico de adicionar mais um título para o currículo da Drag Queen, que além de global, indie, alt, brega, funk e pop, também é idol e está pronta para receber uma página detalhando o tipo sanguíneo e a personalidade Myers-Briggs na plataforma Amino. Agora trate de usar o videoclipe como inspiração e vá malhar as suas pernas!

 

MEXE (2025) - Pabllo Vittar, NMIXX | MTDRS
prós.: carismático e diplomático.
cons.: música minúscula, deixando o pressentimento de que o 7º álbum de Pabllo Vittar terá 12 minutos de duração.
★★★☆ 4/5
👍

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