Marcado pela participação da equipe criativa presente desde o debut, a apresentação pública de seu primogênito e a continuação da investida no eletrônico Hardcore, KURU KURU HARAJUKU reafirma a competência e o apoio da comunidade de Kyary Pamyu Pamyu mesmo em sua etapa independente da carreira. Ainda assim transpira a preocupação: depois de quatro anos sem grandes lançamentos, será este single capaz de reavivar o público adormecido?
A saída à francesa
por um ano de Kyary Pamyu Pamyu após o anúncio de sua gravidez
trouxe ares de esperança aos quatro últimos anos tomados pela
impressão de decadência dos projetos de seu fiel produtor musical
Yasutaka Nakata, que desde 2018 tem batido suas teclas musicais nos
gêneros menos satisfatórios e gastos à exaustão na música pop
contemporânea. Apesar dessa sensação, a carreira de Kyary nunca
realmente se desgastou. Candy Racer, sua separação às amarras
comerciais da WARNER MUSIC JAPAN INC., o fortalecimento com a agência
ASOBISYSTEM CO., LTD e até o lançamento de uma marca de xampus foram
extremamente significantes, conversando com a procura por ampliar horizontes e demonstrar
maturidade para a reformulação de seu gerenciamento sem a rede de
suporte de uma companhia gigantesca como a WARNER MUSIC, rendendo
inclusive momentos espetaculares como sua apresentação no festival
Coachella de 2022.
Enquanto a nova
música não preenche esse espaço com totalidade, junto a Candy
Racer desenvolve uma sonoplastia independente do percurso junto à
WARNER, em que os lançamentos eram desenvolvidos em tempos
controlados pelo mercado e assim refletiam em produções muito
próximas (em data e som) aos outros projetos de Nakata. Essa
discussão sempre dará as caras quando citado um destes projetos,
porque é insignificante a tentativa de separá-los, especialmente
pautado pela falta de acesso do público ao interior desses projetos.
Com a falta de conhecimento sobre o processo, perde-se a noção de
intencionalidade, que para os ouvintes se resume em monotonia
estilística.
Muito deste aparato
de internacionalização não é novo à cena da artista, porém
parece melhor ressoar sem a necessidade de ocupar uma companhia cujo
foco é o território musical japonês. Kyary desde o início
demonstrou potencial de conversar com diferentes nichos pela
particularidade de fundir em seu visual uma parcela jovial e rebelde
da moda local, o que floreou a atenção do circuito crítico, da
alta arte e de personalidades da música alternativa.
Entretanto, isso não exatamente refletiu em suas aventuras sonoras,
que, quando expandidas, eram dependentes de uma ponte exterior: Yasutaka Nakata.
Isso não significa
que o lançamento perdeu os maneirismos do produtor. O que KURU KURU
HARAJUKU sucede em fazer é tornar proposital a capacidade de Nakata usar saudosismo como uma extensão de seus experimentos sonoros,
trazendo uma continuação da música Hard e Techno interpolada com a
versão estendida de PONPONPON do EP de debut Moshi Moshi Harajuku,
assertando o intuito deste lançamento de fazer uma reprise da
carreira de Kyary e um convite ao fervilhar da cultura do distrito de
Harajuku, numa espécie de atualização às outras canções no
catálogo da artista que diretamente referenciam a cultura da área
de Tóquio. Esse saudosismo, sobretudo, calha por polir um dissabor
vindo do uso de Gabber em Candy Racer: o gênero, marcado por sons
texturizados e mixagem estourada, tende a ser dificilmente apreendido
pela comunidade pop e sua experiência moderna de ouvir músicas de
maneira solitária e em ambientes herméticos. Em contraste, há na
nostalgia trajada pelos sintetizadores oitentistas das últimas
criações de Nakata um lugar de conforto que faz do resultado final
uma versão socialite da rebeldia que o Hardcore traz para a música
eletrônica.
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Capa do single KURU KURU HARAJUKU. Fonte: ASOBISYSTEM CO., LTD. Disponível em: https://asobisystem.com/news/58942/. Acesso em: 28 jul. 2025. |
Talvez a dificuldade
de recepcionar esse estilo justifique o enfoque de Kyary neste
lançamento optar pelo ao vivo, tal qual melhorou para muitos a
interação com Candy Racer durante o show no Coachella, porém se
faz limitado ao contato geográfico destes shows. Em vista disso, é
inegável o impacto da falta de um videoclipe, embora completamente
entendível objetivar o foco do lançamento e cortar os custos
iniciais.
Resta somente a
torcida de que essa estratégia in-loco junto às breves aparições
da canção em videozinhos de coreografias pela falta de previsão
para um videoclipe sejam efetivas para embalar o financiamento e a
atenção à elegância entregue neste novo degrau da carreira da
artista, que soube nivelar a retrospectiva da jornada e as surpresas
sempre instigantes da revolucionária personalidade de Harajuku.
KURU KURU HARAJUKU (2025) - Kyary Pamyu Pamyu| ASOBIMUSICprós.: poético e sofisticado sem perder a veia subversiva da artista.
cons.: o foco do ao vivo para a promoção do single pode justamente afastar o público internacional de acompanhar o retorno de Kyary.
★★★★★ 5/5
👍
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