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segunda-feira, 28 de julho de 2025

KURU KURU HARAJUKU é o retorno intimista ao fenômeno Kyary Pamyu Pamyu

    Marcado pela participação da equipe criativa presente desde o debut, a apresentação pública de seu primogênito e a continuação da investida no eletrônico Hardcore, KURU KURU HARAJUKU reafirma a competência e o apoio da comunidade de Kyary Pamyu Pamyu mesmo em sua etapa independente da carreira. Ainda assim transpira a preocupação: depois de quatro anos sem grandes lançamentos, será este single capaz de reavivar o público adormecido?

    A saída à francesa por um ano de Kyary Pamyu Pamyu após o anúncio de sua gravidez trouxe ares de esperança aos quatro últimos anos tomados pela impressão de decadência dos projetos de seu fiel produtor musical Yasutaka Nakata, que desde 2018 tem batido suas teclas musicais nos gêneros menos satisfatórios e gastos à exaustão na música pop contemporânea. Apesar dessa sensação, a carreira de Kyary nunca realmente se desgastou. Candy Racer, sua separação às amarras comerciais da WARNER MUSIC JAPAN INC., o fortalecimento com a agência ASOBISYSTEM CO., LTD e até o lançamento de uma marca de xampus foram extremamente significantes, conversando com a procura por ampliar horizontes e demonstrar maturidade para a reformulação de seu gerenciamento sem a rede de suporte de uma companhia gigantesca como a WARNER MUSIC, rendendo inclusive momentos espetaculares como sua apresentação no festival Coachella de 2022.

    Muito deste aparato de internacionalização não é novo à cena da artista, porém parece melhor ressoar sem a necessidade de ocupar uma companhia cujo foco é o território musical japonês. Kyary desde o início demonstrou potencial de conversar com diferentes nichos pela particularidade de fundir em seu visual uma parcela jovial e rebelde da moda local, o que floreou a atenção do circuito crítico, da alta arte e de personalidades da música alternativa. Entretanto, isso não exatamente refletiu em suas aventuras sonoras, que, quando expandidas, eram dependentes de uma ponte exterior: Yasutaka Nakata.


    
Enquanto a nova música não preenche esse espaço com totalidade, junto a Candy Racer desenvolve uma sonoplastia independente do percurso junto à WARNER, em que os lançamentos eram desenvolvidos em tempos controlados pelo mercado e assim refletiam em produções muito próximas (em data e som) aos outros projetos de Nakata. Essa discussão sempre dará as caras quando citado um destes projetos, porque é insignificante a tentativa de separá-los, especialmente pautado pela falta de acesso do público ao interior desses projetos. Com a falta de conhecimento sobre o processo, perde-se a noção de intencionalidade, que para os ouvintes se resume em monotonia estilística.

    Isso não significa que o lançamento perdeu os maneirismos do produtor. O que KURU KURU HARAJUKU sucede em fazer é tornar proposital a capacidade de Nakata usar saudosismo como uma extensão de seus experimentos sonoros, trazendo uma continuação da música Hard e Techno interpolada com a versão estendida de PONPONPON do EP de debut Moshi Moshi Harajuku, assertando o intuito deste lançamento de fazer uma reprise da carreira de Kyary e um convite ao fervilhar da cultura do distrito de Harajuku, numa espécie de atualização às outras canções no catálogo da artista que diretamente referenciam a cultura da área de Tóquio. Esse saudosismo, sobretudo, calha por polir um dissabor vindo do uso de Gabber em Candy Racer: o gênero, marcado por sons texturizados e mixagem estourada, tende a ser dificilmente apreendido pela comunidade pop e sua experiência moderna de ouvir músicas de maneira solitária e em ambientes herméticos. Em contraste, há na nostalgia trajada pelos sintetizadores oitentistas das últimas criações de Nakata um lugar de conforto que faz do resultado final uma versão socialite da rebeldia que o Hardcore traz para a música eletrônica.
Capa do single KURU KURU HARAJUKU. Fonte: ASOBISYSTEM CO., LTD. Disponível em: https://asobisystem.com/news/58942/. Acesso em: 28 jul. 2025.

    Talvez a dificuldade de recepcionar esse estilo justifique o enfoque de Kyary neste lançamento optar pelo ao vivo, tal qual melhorou para muitos a interação com Candy Racer durante o show no Coachella, porém se faz limitado ao contato geográfico destes shows. Em vista disso, é inegável o impacto da falta de um videoclipe, embora completamente entendível objetivar o foco do lançamento e cortar os custos iniciais.

    Resta somente a torcida de que essa estratégia in-loco junto às breves aparições da canção em videozinhos de coreografias pela falta de previsão para um videoclipe sejam efetivas para embalar o financiamento e a atenção à elegância entregue neste novo degrau da carreira da artista, que soube nivelar a retrospectiva da jornada e as surpresas sempre instigantes da revolucionária personalidade de Harajuku.

 
KURU KURU HARAJUKU (2025) - Kyary Pamyu Pamyu| ASOBIMUSIC
prós.: poético e sofisticado sem perder a veia subversiva da artista.
cons.: o foco do ao vivo para a promoção do single pode justamente afastar o público internacional de acompanhar o retorno de Kyary.
★★★★ 5/5
👍

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