Inscreva-se para acompanhar as publicações deste blog.

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

EXO não deixou de ser peão do sistema, contudo Tempo separa o joio do trigo por fazer-se competente no planeta plástico e prostrante de boygroups coreanos


Não importa onde você esteja, quem você seja e o que você curte: depois do debut horrível e uma guinada um tanto estrichada, EXO chegou à estabilidade em que todo lançamento é bem pensado, curado e executado. O normal se agarrou ao top-tier e, embora questionemos muito como a exacerbada fanbase parece se ausentar em discussões importantes sobre o mezanino musical apropriado pelo grupo, EXO lança mão de mais uma cartada competente com a esdrúxula, instantaneamente constrangedora e surpreendentemente crível Tempo.

Não há muito em discordar sobre as múltiplas competências feitas aqui: o cabelo de Kai continua horrível (e por isso mesmo a gente acredita que ele seja gente), o estilo Chitãozinho e Xororó Moto Fest Congonhas 2018 é espetacularmente brega e a letra é horrível como sempre, dos problemas de madame e mordomo que só o pop coreano é capaz de inflacionar que estejam genuinamente sofrendo com isso.


Tudo isso resume bem - com graus amabilíssimos de evolução - o que se espera de EXO desde o místico e labirintítico MAMA, em que o adolescente-ítico Don't mess with my tempo soa exatamente nos limites e frivolidades de uma frase cool de adolescente que se encarrega de um charme acreditável para um boygroup prismático que não requer se fomentar como algo além do sistema (o problema que soou por One Direction e queima nas mesmas proporções quaisquer esforços vindos de BTS) - mesmo que, sonoramente, exista uma transgressão consciente da SME sobre seus produtos que fazem o resultado de Tempo, e particularmente tudo o que tem sido desencadeado pelos conjuntos da empresa com exceção de Red Velvet (ao qual fica subentendida uma tramada análise sobre a derrocada conceitual de uma das formações mais charmosas dos últimos tempos), algo além do enlace generalista do pop global.

A imediata percepção durante o coro, com os guinchantes sons de tamborete numa plataforma estruturalmente funky-disco foi uma lembrança do terceiro álbum do duo inglês The Ting Tings, Super Critical, que dramatiza, na sempre didática devoção sintética de elementos, uma interpretação hodierna desse som paralelo entre os anos 70 e o início dos 00, que caem, na produção milimetricamente futurística dos compositores assíduos da SME, em uma releitura sóbria, apática e inacessível na faixa-título de EXO.

Invencibilidade, no entanto, traz seus muitíssimos ganhos a uma frequente perda de identidade interna, que há muito venho comentando em minha conta do Twitter - que se vocês já acessaram, peço imensos perdões - sobre a autorialidade da empresa ser tão diluída entre suas peças que perde uma noção de impacto a longo prazo, sobre que grande parte da crítica replicativa aqui (e a quaisquer lançamentos masculinos vindos de lá) questionará a presença ideal de EXO para a composição feita para o grupo.


Para entender a noção confusa do que estou falando, há alguns dias me peguei narrando vídeos avulsos do YouTube, num passatempo de colocação de bons fascínios da música que têm margem liquefeita para o vangloriamento dessa sonoridade exclusiva à empresa. Nessa pauta, coloquei em xeque MOVE, de TAEMIN, ao qual derradeiramente em meu peito se classifica como uma canção classuda de quenga diplomática (exatamente a personalidade que imagino em TAEMIN), que vazou aos mesmos propósitos para NCT U pelo dueto BOSS, Baby Don't Stop. Por mais que mantenha a fantasia e a execução perfeita nos dois ciclos, é um mesmo som adaptado para diferentes ocasiões, que perde a primeira ilusão de heterogeneidade.

Ainda assim, a construção sonora de baixos estourados é tão necessária e galante na massa blasé do pop global que aguardamos de braços abertos, sempre muito bem-vinda e deslocada do resto, quaisquer apreensões da BIG3 sobre a resistência da indústria, sem a capacidade de mascarar que no círculo unitário da empresa, esse é um tom passado e reutilizado por mimeógrafo (numa comparação escolar muitíssimo acurada), que perde sua tonalidade sem consumir seu conteúdo.



Citar TAEMIN e NCT numa mesma pauta conecta a assimilação holística sobre a faixa, que queira ou não soa como parte da cartografia total da empresa. Por conta disso, a primeira ouvida também me acendeu as pontas de uma lembrança sobre a espera de um sonância soturna e digressiva, com a abarcada groovização fidedigna às experimentações desse gênero constante, que tomaria os reforços após Tell Me What To Do, de SHINee em 2016. A melodia modorrenta veio de reflexo atonal ao brassy colorido de 1 of 1, que num álbum sequente, costuraria com felicidade na medida retrofuturística e sóbria de Tempo ao invés do retorno desgastado house-based Good Evening. Minha visão sobre a música mudou bastante desde seu lançamento, embora o rechaço tópico à emulação sentimental da canção continua a mesma - e me incomoda em átrios reforçados sobre os eventos desencadeados pouco tempo antes. Musicalmente, entretanto, é uma música notoriamente SME-esca escarrada na sua cara, que talvez concorresse a uma apreensão proeminente se nas mãos dos lavados NCT-insira-sua-unit-aqui, que até então não tinham definição gravitacional para requisitarem peças tão cinturadas à sua herança sonográfica.

Fora isso, as parcialidades analíticas sobre a música são mínimas, em que os maus impactos se concentram entre o primeiro e último ato da ária.

Recentemente fui bombardeado com opiniões concomitantes de músicos americanos sobre o kpop em que desatavam com certo louvor a proeza do mercado coreano de imputar conclusões às faixas. O fim é sem dúvidas uma das seções mais complexas de se elaborar em quaisquer produtos artísticos, pelo qual uma impressão sentimental, métrica e tonal devem ser cimentadas para obter um desligamento ou um clímax, capaz de reiterar as outras proposições elaboradas no curso da obra e, na funcionalidade empresarial do pop, estender a necessidade de ouvir ou manter-se integrado à peça, que com certa ironia Tempo peca em assentar as feridas assoladas na trajetória da música.

O kitsch aplicado de capas institucionalizadas é pra poucos, não é mesmo?
Ser inconcluso, na efetividade da linguagem linear bem apresentada do kpop, não é uma boa definição por quaisquer óticas, mesmo que a intenção faça sentido no logos abstrativo da composição. Essa é a mesma sentença pela qual a abertura da música é interpolada de modo negativista, na brutalização com que a primeira transição de seções é demonstrada e o não retorno de uma forma cíclica a esse primeiro estágio - cuja repetição, bastante justificado nas premissas escritas por aqui, é uma forma de acomodar descalços estéticos.

A contundência dessa crítica é ínfima, ao ponto de que a macro-delação da música não é rompida pelos exageros plásticos das extremidades reproduzidas, por conta da colagem clássica expressa no miolo da obra, em mais um consagrante banho de calcinhas sob a excelência disco-cinematográfica de EXO sobre a concorrência de grupos masculinos.

Analisar um mercado configurado por fetiches requer atenção dobrada para a arquitetura de juízos sobre as proporções desbalanceadas de produção, ao que a música pouco importa na apreensão dos valores econômicos instaurados - e isso é claramente anuviado em duvidosas considerações exacerbadas sobre lançamentos abaixo da qualidade mínima, como posto, não obstante à concordância com minhas opiniões, sobre a notação global por ARMYs nas COLOCAÇÕES SOBRE O RECORDE DE BTS - em que talvez a comemoração tenha vindo cedo demais -, então é bom ser surpreendido com um movimento salvo, positivista e primoroso nas lacunas necessárias a se preencher nos constantemente bem tricotados insertos da SME, pela longa e trágica história do ganso de ovos de ouro que contém riquezas limitadas de ócio criativo e individualista do mundo da música.

A divisão pouco rígida entre as plêiades estéticas das parcelas de uma mesma origem são cegamente afagadas pela sublimidade de suas aplicações, que simultaneamente nos mantém politicamente contentes nos momentos presentes de sua diferenciação do todo no círculo sócio-cultural. A defasagem é uma atuação garantida para o fluxo modular líquido do produto da arte, que exige um pensamento à frente que está aquém nas apreensões pensamentares da plataforma, que assume um temor soluto à solvência de suas criações.

Pelo mais ou pelo menos, Tempo é agradavelmente solidificada no pátio superior encontrado musicalmente e visualmente por EXO, sob nenhuma intenção aguçada de mudar o mundo e, por tal, desenrolando-se surpreendentemente divertida, brega e na melhor ótica dos clichês.

Agradecimentos gerais (e bem curtinhos, escondidos no final do texto) à magnânima @plutaoemchanel, que constantemente me educa sobre boybands às quais não sei eficientemente sobre nada. Gente além da gente que com toda razão vive em outro planeta.

De olho, 👁👁
GUNHELMET

Nenhum comentário:

Postar um comentário