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quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Ser melhor que Dream Girls não significa muita coisa, já que IZ*ONE não casa a manteiga com o pão e entrega seu debut com distúrbios de personalidade.

A reação final de um grupo formado com estrelas japonesas encontrando obscuros sumiços e os muitos cheques da Pledis Entertainment sendo devolvidos ao banco resistiu entre o choro sertanejo sofrido e a decepção generalizada daquele pensamento místico do tudo dando errado que está acertando pedras nas nossas cabeças desde 2014.

Se a esperança de um rookie que unisse as culturalmente inconciliáveis nações começou a morrer logo no segundo episódio, a realidade do aguardado debute meses depois não é muito diferente: empunhando armas e atirando para todos os lados da bolha pop, de alguma forma as diplomatas IZ*ONE (아이즈원) prometeram paz dentro de um banho de sangue.


*BoOooOOooooM*


Sentiram falta do clickbait apocalíptico?

Pra quem achava que I Don't Like Your Girlfriend era o som confuso e separatista que toda crítica fala - e já dei meu pitaco em A favor do porte de armas, neofascistas Weki Meki erram o alvo e assassinam quaisquer chances de erguerem a carreira 🤠 dizendo como acredito que não o é -, é esse tipo de esfera não polida que se confirma como uma costura musical: La Vie en Rose (라비앙로즈) segue a linguagem linear clássica do pop (diferentemente, por exemplo, de I GOT A BOY), que, apesar da estrutura padrão, não é capaz de representar uma história com todos os pormenores preenchidos.

As partes não conversam entre si e o resultado acaba por parecer uma amálgama de possíveis boas músicas - e entre elas uma indeferivelmente ruim -  que não se juntam de maneira alguma.

Este cenário provavelmente acompanha a não-coordenação de vozes das integrantes, em que embora contenham tonais semelhantes e bem executados - crivelmente insertados às capacidades estilísticas de cada menina -, não há transição entre elas, o que faz com que cada seção tenha sua cor e essa cor se contraste drasticamente com as outras, num estranhamento facilmente evitável.



Essa é uma alternativa consciente para que todo mundo seja igualmente notado na primeira apresentação do conjunto para o mercado. A digressão do método está no produto sensível que a fórmula gera para a peça final, que não soa agradavelmente refinada aos ouvidos. Ainda mais questionador é que mesmo com a separação dos elementos, figuras muito importantes na narrativa de PRODUCE48 sequer dão presenças impactantes na música - e faz com que Miyawaki Sakura ou Kang HyeWon, de um lado a estrela nata do programa e do outro a representante da família tradicional e bons costumes coreanos - sofram de um sumiço pecador.

O efeito Leatherface é tão incisivo que cava sua via para a ossada da música, capaz de corroborar nessa ilustração de zigue-zague que sequer condiz com o tema francês cult romântico evocado pelo título da canção. A injeção de riffs iberistas por modos orientais, a predominância de matizes terrosas e a letra linguisticamente miscigenada empurra o lançamento para longe de um idealismo,  ao que apesar da inofensividade para o percurso musical, também não faz justiça a nenhum dos conceitos apresentados. É, por conta disso, um resultado anônimo e sem identidade para um evento em que a homogeneidade do grupo é posto em xeque: há - especialmente entre os ouvintes estrangeiros - o sentimento de injustiça por conta do lineup que não ganha apoio para a obra em não desenvolver carisma sonoro, individual ou totalitário entre as doze integrantes.

A facilidade de compreensão da peça por sua montagem tradicional determina posicionamento ainda mais complexo dessa nota de afastar o lançamento de memorabilidade. Com a recomendação permanente de necessários tempos de respiro para o espectador apreender-se das formatações inusitadas, La Vie en Rose pelo contrário abraça o melhor prospecto possibilitado pelos refrões quantitativamente vazios de informação lírica, que muito me agrada numa análise geral da faixa. A porção contém um sólido sentimento de conclusão, que afirma o trecho reflexivo da letra de encontrar sua merecida e admirável vida em tons de rosa, compreendendo também em sua todavia a decepção do público de caminhar o build up das sentenças anteriores para arremessar-se numa pausa.



Particularmente comparando, ao executar a title de IZ*ONE me vejo tentado a procurar por I'm so sick (1도 없어), de Apink (에이핑크), que ministrou sucesso e surpresa no uso dessa mesma fórmula superexposta, pela diferença em que nela duas grandes calotas melódicas ressoam por meio de recapitulações presentes no coro (ou seja, a construção intensifica para o refrão, uma divisão coesa independente com progressões particulares que a tornam fascinante para ocupar esse intervalo), ao passo que a coordenação de La Vie en Rose envelopa múltiplos picos sônicos autárquicos crescentes, que prosperam, interrompem, crescem mais uma vez e freiam bruscamente no axioma instrumental.

A falta de dinâmica no coro não me afeta como um problema (e muito poderia ser uma solução para tantas músicas frenéticas dispostas no mesmo leiaute tropicalista eletrônico), porém a qualidade individual dos versos sendo limitados a períodos específicos e intransigentes empobrecem a resolução.


No fim das contas, esse não é um mau epílogo, sob a realidade de que um ensaio para o debut tem sempre peso inconsciente maior, porque é o cartão de visitas acorrentado a toda a excitação de um dos mais aguardados e venenosos pactos do ano, pronto para ceifar os escalpos dos concorrentes em aparição tão fluida. As gigantescas muralhas derrubadas na aproximação dramática dos cenários fonográficos rígidos de Japão e Coreia perdem seus caracteres políticos na diluição do som de entrada com personalidade fragmentada, ao qual as retóricas tropicais e galicistas supõem preenchimento para um meio de carreira, uma volta para argumentar o nome, como foi na tão igualmente incongruente Whatta Man (Good Man), vinda da primeira leva do reality, cujas blasfêmias são perdoadas pela diversão atópica que ela se propõe a entregar, sem os deveres de apresentar a equipe ou assentar simpatia que uma estreia tem de cumprir.

O uso de sons primos ao AKB48 e relacionados, a dinâmica linguística e as infindáveis heterogêneses acalentadas no processo são negligenciadas no palco, que transveste boa engenharia em má abstração. La Vie en Rose mantém o consagrado padrão da Stone Entertainment de articular inícios horríveis, gastando todas as suas possíveis milhas Santander para manter a radiante espora de PRODUCE48 fora de sua transgressora ~risos~ IZ*ONE de conforto.

De olho, 👁👁
GUNHELMET

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