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quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Através de narrações parnasianas sobre a vida, iU incorpora Sky Ferreira para destruir o planeta Terra com uma música chata

IU entrou no magnânimo estado do ópio da fama em que nada a atinge - talvez porque o cataclismo controlado da personagem a estruturou de uma forma sequer realista pra humanidade -, em que agora cabe a ela, tirando do bolso o carisma que rende milhões, utilizar seu poder para experimentar na física da música os modos de pontuar com juízos de valor a sociedade que a elevou. Comemorando seus 10 anos de fabricação, a vocalista traz aos ânimos a mais politizada e carismática diss-track refinada pela excelência visual que só a Coreia é capaz de prover.  Eminem apenas sonha com tamanha sublimação:

Você realmente não esperava que eu fosse defender uma música modorrenta usando Sky Ferreira, IU e Eminem num mesmo (e minúsculo pra esses padrões bizarros que tomam conta daqui, risos) post, certo?


Sinceramente acho injusto exigir qualquer coisa além do tipo plano de música "refrescante" com matizes de "veraneio" que permeou toda a carreira de IU, e nessa década toda, se adaptou às muitíssimas interpretações da fantasia musical, em que a estória por trás da música que contava histórias apaixonadas de mundos paralelos passou a um desencanto realista, de tonalidades cada vez mais pastéis para terminar nesse gesso plenamente contemplativo acompanhado de sons lounge.

Pois veja: é essa a mecânica extremamente inteligente da menina, que assina tanto a produção da faixa: a música não é verdadeiramente desinteressante (porque faz parte do espetáculo do quase-gênero-espacial de canções pra se ouvir na cafeteria, ou enquanto prova uma roupa na C&A, de se manter estável e chill, a expressão sonora do marasmo), entretanto é geneticamente calculada para estar na medida do consumo cego de canções climáticas, enquanto se encarrega de usar desse instinto para mascarar o pensamento analítico exibido em seu liricismo.


Por comparação, em Twenty-three (스물셋) - ou se a gente puder estender: todo o EP CHAT-SHIRE - o incômodo popular foi norteado pelo som ser maquinalmente interessante às letras e ao clipe, em que tudo emulava o desconforto e a transição (da viagem à maioridade numa visão de ficções cruéis) de iU/IU/iu/Iu em seu aniversário. A partir disso, o autônomo dos 25 com Palette (팔레트) e desembocando às forças em BBIBBI (삐삐) soam por tentativas de lixar as arestas da forma do som para elevar seu feitio crítico, comicamente em testes para expor a ingenuidade do público enquanto mantém a autoconsciência da peça. Isso, gatinhas, é a atuação comportamental da arte, que demonstra a magnitude da inabalável solista da nação.

Sob a parcela de porcelana lustrada, carrega em iU (risos) toda a memória de sua construção como ídolo, de discernimento de brutalidade que de encontrou alívio na extração, por um fluxo idiótico de se manter na indústria. A trágica ironia de uma vitória que sempre estará em percalços, ao mesmo tempo que politicamente insinua uma mudança de discurso através da obra do sistema de produção, numa bela e obscura interação de contracultura.


BEEP!

Não é realmente como se vocês escutassem iU esperando que ela soltasse um estilo noise Yves Tumour do dia pra noite. Creia ou não, a monstruosidade dela está justamente em canalizar um tom sério sobre as realidades do mundo da forma mais plástica e inofensiva possível, aludindo - tal qual na capa do álbum- à ideia de uma censura estética sobreposta no arguir da completa exposição.

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