IU entrou no magnânimo estado do ópio da fama em que nada a atinge - talvez porque o cataclismo controlado da personagem a estruturou de uma forma sequer realista pra humanidade -, em que agora cabe a ela, tirando do bolso o carisma que rende milhões, utilizar seu poder para experimentar na física da música os modos de pontuar com juízos de valor a sociedade que a elevou. Comemorando seus 10 anos de fabricação, a vocalista traz aos ânimos a mais politizada e carismática diss-track refinada pela excelência visual que só a Coreia é capaz de prover. Eminem apenas sonha com tamanha sublimação:
Você realmente não esperava que eu fosse defender uma música modorrenta usando Sky Ferreira, IU e Eminem num mesmo (e minúsculo pra esses padrões bizarros que tomam conta daqui, risos) post, certo?
Pois veja: é essa a mecânica extremamente inteligente da menina, que assina tanto a produção da faixa: a música não é verdadeiramente desinteressante (porque faz parte do espetáculo do quase-gênero-espacial de canções pra se ouvir na cafeteria, ou enquanto prova uma roupa na C&A, de se manter estável e chill, a expressão sonora do marasmo), entretanto é geneticamente calculada para estar na medida do consumo cego de canções climáticas, enquanto se encarrega de usar desse instinto para mascarar o pensamento analítico exibido em seu liricismo.
Por comparação, em Twenty-three (스물셋) - ou se a gente puder estender: todo o EP CHAT-SHIRE - o incômodo popular foi norteado pelo som ser maquinalmente interessante às letras e ao clipe, em que tudo emulava o desconforto e a transição (da viagem à maioridade numa visão de ficções cruéis) de iU/IU/iu/Iu em seu aniversário. A partir disso, o autônomo dos 25 com Palette (팔레트) e desembocando às forças em BBIBBI (삐삐) soam por tentativas de lixar as arestas da forma do som para elevar seu feitio crítico, comicamente em testes para expor a ingenuidade do público enquanto mantém a autoconsciência da peça. Isso, gatinhas, é a atuação comportamental da arte, que demonstra a magnitude da inabalável solista da nação.
Sob a parcela de porcelana lustrada, carrega em iU (risos) toda a memória de sua construção como ídolo, de discernimento de brutalidade que de encontrou alívio na extração, por um fluxo idiótico de se manter na indústria. A trágica ironia de uma vitória que sempre estará em percalços, ao mesmo tempo que politicamente insinua uma mudança de discurso através da obra do sistema de produção, numa bela e obscura interação de contracultura.
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BEEP! |
Não é realmente como se vocês escutassem iU esperando que ela soltasse um estilo noise Yves Tumour do dia pra noite. Creia ou não, a monstruosidade dela está justamente em canalizar um tom sério sobre as realidades do mundo da forma mais plástica e inofensiva possível, aludindo - tal qual na capa do álbum- à ideia de uma censura estética sobreposta no arguir da completa exposição.
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