A crítica cresceu como culpa, mas mantém o senso do momento de que facilmente nos deixamos levar por visuais admiráveis que reduzem discursos pertinentes da sociedade. O exercício é narrar os acontecimentos da peça audiovisual para entender do que se trata: enquanto em Goblin podíamos extrapolar a queima-roupa de Sulli como instável (dada a ordinarice de publicações sobre: 1, 2, 3, 4) ao posicionamento de uma personagem mocumentária com um distúrbio da psique, em Monster nos deparamos com a associação da homossexualidade a um estado de anomalia: é traçado como mau e cruel, creditado à canção sobre um monstro.
Esse predicado já não está muito longe da convenção do Red Velvet. Em grande porção a videografia opera em estridentes textualidades controversas. A novidade é a redução dos contratos com o nome menos inventivo possível: a unidade Red Velvet - IRENE & SEULGI.
Red Velvet é um grupo inteiriço. Isso não deveria ser novidade de forma alguma, mas aparentemente é para a internet. Desmantelá-lo viria de forma caótica, porque os benefícios dos membro completam as deficiências dos outros. Todavia, Seulgi e Irene são escolhas inteligentemente safas para esse propósito, pois, além de alimentarem o imaginário existente do duo desde o preâmbulo de dança do SR14G, põem em equilíbrio contrastes muito visíveis que servem como resposta à corja desonesta em torno de Irene: acusada de não saber cantar, dançar ou interagir na dinâmica do conjunto.
Essa lógica não faz sentido, porém nunca foi preciso factualidade para compactar opiniões. Nos seis anos de Red Velvet a imagem do grupo se manteve sem desgastes de marca, que é a resposta para sua funcionalidade. Apesar disso, o imaginário coletivo é diretamente confrontado quando colocada a vítima das críticas em uma posição de destaque, imunizado por manter um mesmo equilíbrio conhecido (dado pela junção a Seulgi: a powerhouse mais ilesa do RV).
Monster é um grande lugar-comum para a discografia das meninas. Isso sem exatamente ser uma repreensão: há tempos em que a SM Entertainment tem sido a empresa entre o tripé da indústria a trazer conteúdos interessantes perfeitamente diluídos para a apreensão do público. Talvez nessa mesma lógica ela supõe ousadia com uma semiótica tenuemente ofensiva, inabalada pelo gigantismo do nome que carrega. É natural da associação do extraviado a valores que geram debates sociais. O mítico, o criminoso e o parafílico caem nesse contexto, da criação de um antagonismo positivo (como o herói desvirtuado) e não é muito difícil de traçar, nessa perspectiva, um videoclipe em que consome todas essas tramas: cenários que remetem a convenções pagãs, exaltação de armas e violência e flertes incomuns. A militância cai sobre essa representação, vestida de parafilia, não ser exatamente um comportamento danoso, no entanto estar lado a lado, visualmente, com eles. A homossexualidade, por sutilezas panorâmicas, é posta como uma anomalia que caracteriza os monstros em cena.
Tudo isso soa como inocência compositora das ideias de intenções socialmente questionáveis, que valem o papo chato ativista por serem nem um pouco necessárias para uma construção não difamatória de signos visuais. A coreografia coralinesca com os desenhos corporais formando um aracnídeo alienígena, por exemplo, realiza uma figura monstruosa filosoficamente composta. É bonito e artístico sem para isso atribuir que o modo de vida de x se liga à maldade de y. O mal pode ser: abstrato, inventivo, fora da realidade social! Chegou a hora do militante descansar (descansa, militante!), saindo de cena com o pensamento de que independentemente de todo o poder midiático e acertos sonoros e visuais da empresa, a SME escolhe mais uma vez investir nos mesmos padrões desgastados do que considera um anti-herói para contar a história.
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