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sábado, 25 de outubro de 2025

Sem tempero, LE SSERAFIM segue castigando bocas esfomeadas na fila do espaguete

    Essa é a métrica do fim: tudo é a mesma coisa, toda música é uma versão particularmente pior de outra música e todo clipe é o mesmo, não importando o diretor ou a equipe criativa. MAS NÃO SE PREOCUPE! Será entregue com incrível perfeição, tamanha e tão minuciosa que sai do artístico e cai direto para o plástico.

    Já deixemos avisados que tenho uma ojeriza pela HYBE e todas as suas afiliações. Essa é uma distinção muito importante para caso algum fã perdido venha parar nesse blog parcialmente anônimo da internet: a companhia não remete aos grupos, embora você tenda ao afastamento geral daquilo que você abomina. HYBE desde o início de sua competência artística se muniu de brechas éticas e morais para construir seus artistas, especialmente se tratando de cooptar signos, referências e linguagens de culturas e comunidades alienígenas aos seus participantes e suas direções criativas. Em suma, pegar dos outros e tratar como seu.

    Obviamente, essa é uma questão muito além de uma empresa ou de SPAGHETTI, pois a música popular mundial é tecida nisto. Quanto à HYBE, vemos essas cenas de maneira constante e sob holofotes: LE SSERAFIM, independentemente de suas conquistas pessoais, individuais, da labuta no reality show PRODUCE 48, desde sua formação trouxe criações duvidosas feitas em engenharia ao que está em voga, sem direção criativa particular ou identidade única, vestindo frases e imagens do vocabulário LGBTQ+ afrodescendente sem assumir apoio público.


    Compreenda o cenário sociopolítico: uma drag queen aparecer num clipe como um adereço cômico e estranho não é suporte, especialmente quando pouco tempo antes a expressão cunhada pela drag queen preta Nina Bo'nina Brown, “The girls are girling”, é utilizada à exaustão sem nomear, patrocinar ou direcionar à sua origem. Aqui, mais uma vez, a repetição: pega-se do léxico LGBTQ+ preto e desfaz de seu papel de origem.

    SPAGHETTI funciona como uma colagem de outras tantas músicas, o que talvez seja o que a faz suficiente para se ouvir de novo e de novo. Em particular, o foco desta crítica está no uso uma cadência bastante específica utilizada em Count Contessa, de Azealia Banks, para a construção de seu refrão.


    Como sempre, essa análise não se baseia no polimento de um lançamento ou da índole individual dos participantes do grupo. Fico muito feliz e muito sucesso desejo para cada integrante do projeto, o que não ignora que críticas venham em comunhão. Ao fã, saiba como ser crítico mesmo à separação do produto ao produtor, porque como relacionado acima, tanto Nina Bo'nina Brown quanto Azealia Banks têm o histórico de sofrer um abate linguístico por serem tidas, no senso popular, como figuras controversas. Isso, no entanto, não torna o trabalho e persona destes livres para serem mimetizados e anulados em nome e ordem.

    Ao todo, mesmo ignorando tudo isso não há muito acréscimo neste lançamento. A música já foi ouvida antes e o clipe é virtualmente idêntico a todos os outros clipes produzidos nestes últimos semestres da indústria sul-coreana. Porém vale o crédito: se a questão toda é a de que estamos falando de LE SSERAFIM, cá de fato estamos falando do grupo, com mais pena que elogios no que, a longo prazo, o que não é especial se dissolve facilmente na mente do público.
 
SPAGHETTI (2025) - LE SSERAFIM | SOURCE MUSIC
prós.: num relevante trabalho de reaproveitamento, pegaram um pouco de tudo o que está dando certo e botaram num prato.
cons.: falta identidade de som e imagem, especialmente triste para um grupo formado diretamente com o público. Apague a luz e qualquer um entregaria o mesmo resultado tendo essa música.
★★☆☆ 2/5
👎

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