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quarta-feira, 26 de novembro de 2025

Merry Christmas aqui não! Pabllo Vittar põe o Chester na mesa e faz um Natal digno de Brasil

    
O evento natalino é um espetáculo bastante esquisito para o território brasileiro. Se por um lado muito o anunciamos desde mês de outubro, passado 25 de dezembro a árvore é só mais uma decoração esperando para ser desmontada e Cristo é entregue de volta para as mãos de Deus. O que não dá pra negar é que o Natal é um momento relevante para um artista se investir, afinal de contas o tem som, gosto e imagem próprias, com uma cadeira constante todo final de ano. Ainda assim, Pabllo Vittar vir com um EP natalino é surpreendente. Enquanto experimentar, brincar e festejar não são inesperados de suas músicas, um lançamento sazonal tem claro risco: é Prazer, Mamãe Noel capaz de celebrar o nosso Natal?

    Com cinco músicas o projeto já anuncia ao público que a viagem será curta e sob medida, o que é imensamente bem mensurado num ato de especificidades, que tende a se perder ao prolongar demais para preencher todo um álbum físico. Essa não é uma preocupação do mundo digital, e é particularmente engraçado ser um lançamento tão curto quando cada música é uma exibição própria que não cai em redundâncias. Tudo é muito brasileiro e muito delicado – com o dinamismo já esperado e celebrado nos projetos de Pabllo e sem perder o foco festivo do EP.
 

    A ilustração que temos do Natal não pertence ao Brasil, uma vez que a comemoração suprime o sentido religioso perante a imagens de caponas vermelhas, renas e gelo. No som, isso também se torna complexo de trabalhar, já que sinos e guizos tampouco fazem parte do nosso repertório, mas calham de complementarem a produção diante do trazer de temas e cenários do nosso Natal, uma comemoração de ceia familiar sem cerimônias estrangeiras como ofertar biscoitos e leite morno ou meias penduradas na lareira. Nessa proposta, a letra e o canto se tornam o ponto principal e o restante vira um jogo de descobertas entre o solene (harmonizando com a beleza da voz e das melodias) e o camp.
 
    Como um parêntese, a tradução mais simplificada de camp enquanto movimento estético é a palhaçaria, uma arte que tem uma recepção despretensiosa e é carregada de signos muito expressivos, como a fantasia circense cheia de cores e texturas que, ainda que sem combinar, têm sua seriedade de ofício. O camp não impede o humor, o charme ou a sensualidade, porém os faz com propósito em vez de, por ocaso, cair nestes tratos.

Capa do álbum "Prazer, Mamãe Noel", de Pabllo Vittar. A capa contém a artista vestindo longa saia branca de brilhantes e top de mesmo tecido, com asas nas costas, figurando-se um anjo. Ao seu redor, renas filhotes e pinheiros compõem o cenário. Toda a cena é feita em pintura, aparentando-se como um cartão natalino. Sobrepondo a artista, no centro-baixo da imagem, em vermelho com letras finas estão escritos o título do álbum e nome da artista.
Capa do EP. Fonte: ML Genius Holdings, LLC. Disponível em: https://genius.com/Pabllo-vittar-filipe-guerra-and-john-w-prazer-mamae-noel-lyrics. Acesso em: 26 nov. 2025.

    Aqui, esses excessos são tomados pela música que dá nome ao álbum e chega como imenso choque no meio do fluxo muito gracioso construído pelas outras músicas. Pabllo se revela de uma maneira brincalhona e esta brincadeira é levada a sério. De maneira interpretativa, longe de destoar podemos usar a cartada do natal brasileiro em que há sempre aquele familiar diferente que se sobra num canto, e todo o EP é uma compreensão disso em diferentes olhares, sendo um deles algo bêbado, destemido e meio rampeiro.

    O novo instante da carreira musical da drag queen no selo musical MTDRS (Mataderos Projects), já situado no single com o NMIXX (discutido clicando: aqui) deve ser visto com imensos bons olhos pelo suspense que carrega ao distanciar de certos respiros trazidos pelo que já está sedimentado na indústria enquanto dá espaço a este tipo de experimentação que não trará resultados diretos. Sinceramente, é uma situação de tirar o chapéu perante uma indústria cada vez mais restrita em seus aparatos inventivos. Mais do que isso, abriga a relação de ocupar espaços estrangeiros com a brasilidade, em que as lojas dos mercados e as decorações das praças carregam um exemplo de Natal que não se veste ao nosso clima e não fala a nossa língua. Constantemente com o que consumimos, nos vemos diante de uma guerra cruzada em que muito tiram da gente e nada entregam. Vivenciamos o mundo e continuamos a nos perguntar o quanto o mundo vivencia conosco. Imensos aplausos à produção e à performance por essa dedicação. E aos leitores, com um mês de antecedência, Feliz Natal!

Prazer, Mamãe Noel (2025) - Pabllo Vittar | MTDRS
prós.: diverso e direto, sendo um lindo acréscimo para a cartela de Vittar.
cons.: e não é que foi rápido demais? Mesmo tendo algumas das maiores músicas (em duração) da artista, resta a vontade de querer mais e mais do álbum.
★★★★★ 5/5
👍

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