Com cinco músicas o projeto já anuncia ao público que a viagem será curta e sob medida, o que é imensamente bem mensurado num ato de especificidades, que tende a se perder ao prolongar demais para preencher todo um álbum físico. Essa não é uma preocupação do mundo digital, e é particularmente engraçado ser um lançamento tão curto quando cada música é uma exibição própria que não cai em redundâncias. Tudo é muito brasileiro e muito delicado – com o dinamismo já esperado e celebrado nos projetos de Pabllo e sem perder o foco festivo do EP.
A ilustração que temos do Natal não pertence ao Brasil, uma vez que a comemoração
suprime o sentido religioso perante a imagens de caponas vermelhas,
renas e gelo. No som, isso também se torna complexo de trabalhar, já
que sinos e guizos tampouco fazem parte do nosso repertório, mas
calham de complementarem a produção diante do trazer de temas e
cenários do nosso Natal, uma comemoração de ceia familiar sem
cerimônias estrangeiras como ofertar biscoitos e leite morno ou
meias penduradas na lareira. Nessa proposta, a letra e o canto se
tornam o ponto principal e o restante vira um jogo de descobertas
entre o solene (harmonizando com a beleza da voz e das melodias) e o
camp.
Como um parêntese, a tradução mais simplificada de camp enquanto movimento estético é a palhaçaria, uma arte que tem uma recepção despretensiosa e é carregada de signos muito expressivos, como a fantasia circense cheia de cores e texturas que, ainda que sem combinar, têm sua seriedade de ofício. O camp não impede o humor, o charme ou a sensualidade, porém os faz com propósito em vez de, por ocaso, cair nestes tratos.
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| Capa do EP. Fonte: ML Genius Holdings, LLC. Disponível em: https://genius.com/Pabllo-vittar-filipe-guerra-and-john-w-prazer-mamae-noel-lyrics. Acesso em: 26 nov. 2025. |
Aqui, esses excessos
são tomados pela música que dá nome ao álbum e chega como imenso
choque no meio do fluxo muito gracioso construído pelas outras
músicas. Pabllo se revela de uma maneira brincalhona e esta
brincadeira é levada a sério. De maneira interpretativa, longe de
destoar podemos usar a cartada do natal brasileiro em que há sempre
aquele familiar diferente que se sobra num canto, e todo o EP é uma
compreensão disso em diferentes olhares, sendo um deles algo bêbado,
destemido e meio rampeiro.
O novo instante da
carreira musical da drag queen no selo musical MTDRS (Mataderos
Projects), já situado no single com o NMIXX (discutido clicando:
aqui) deve ser visto com imensos bons olhos pelo suspense que carrega
ao distanciar de certos respiros trazidos pelo que já está
sedimentado na indústria enquanto dá espaço a este tipo de
experimentação que não trará resultados diretos. Sinceramente, é
uma situação de tirar o chapéu perante uma indústria cada vez
mais restrita em seus aparatos inventivos. Mais do que isso, abriga a
relação de ocupar espaços estrangeiros com a brasilidade, em que
as lojas dos mercados e as decorações das praças carregam um
exemplo de Natal que não se veste ao nosso clima e não fala a nossa
língua. Constantemente com o que consumimos, nos vemos diante de uma
guerra cruzada em que muito tiram da gente e nada entregam.
Vivenciamos o mundo e continuamos a nos perguntar o quanto o mundo
vivencia conosco. Imensos aplausos à produção e à performance por
essa dedicação. E aos leitores, com um mês de antecedência, Feliz
Natal!
Prazer, Mamãe Noel (2025) - Pabllo Vittar | MTDRSprós.: diverso e direto, sendo um lindo acréscimo para a cartela de Vittar.
cons.: e não é que foi rápido demais? Mesmo tendo algumas das maiores músicas (em duração) da artista, resta a vontade de querer mais e mais do álbum.
★★★★★ 5/5
👍
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