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sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Cantora com data de validade: a desconfortavelmente consistente carreira de JEON SOMI

 A conversa geral sobre a carreira de JEON SOMI é a do desgaste potencial dos talentos da artista. Surpreendentemente, isso não diz respeito aos seus últimos lançamentos, que ilustram de cabo a rabo o divertido imaginário aborrecente, inconsequente e juvenil da loirinha.

Pois então, se são certeiros, por que o fã-clube (sem nome) que acompanha SOMI desde 2015 não está satisfeito?

 


A fórmula comum aos ídolos coreanos é a de que o performer vende a performance. Mesmo o maior dos colapsos musicais lançados ganha interesse e apreciação pelo carisma da execução. Enquanto essa não é a conversa de hoje, é sempre bom apontar o quão positivo esse fenômeno pode ser para a música ao valorizar rotação de estéticas sonoras e visuais sem se preocupar com uma validação musical técnica. É o que fez do JPOP e faz atualmente o KPOP tão inovadores e fascinantes: está sempre transformando e diferenciando da repetição das outras indústrias.

Nesse ponto, há imensa naturalidade na maneira como a música de SOMI casa com a imagem da artista: se ela engloba uma persona GOSSIP GIRL, com dedinhos no Twitter e uma carta branca da juventude a qualquer ignorância produzida, o som inofensivo, seguindo tendências ultrapassadas que são maquiadas pela ótima engenharia de produção satisfaz a sua marca.


Dá pra ser ainda mais certeiro - e dar os troféus aos vencedores - ao analisar que THEBLACKLABEL, selo não muito diferenciado de sua corporação-mãe YG Ent., foi capaz de separar o estilo das produções de SOMI dos outros nomes do catálogo (ainda que pecando nessa cissiparidade ao repetir títulos e compositores). Mais ainda, esse acerto foi amplificado ao incluir a artista na confecção de suas letras, aniquilando o maior dos problemas de sua estreia com BIRTHDAY, em que a juventude exibida nas letras era tingida pela ótica de um senhor de meia idade, com menções a Kelis e secar tinta de polaroids (o que ainda assombra a carreira da família agregada BLACKPINK).

Qual então o problema de uma carreira funcional? Bem, se por um lado a separação entre THEBLACKLABEL e YG Ent. só mostrou consistência de lançamentos, ela não superou a capacidade de demonstrar transformação. Isso em específico é importante para a carreira da Camila Queiroz coreana por dois motivos: 1. a visão do jovem rebelde sem causa carrega data de validade e 2. SOMI, de 2015 pra cá, navegando de reality em reality e de carreira em carreira, já entregou (com sucesso!) outras muitas facetas visuais e musicais.

Contexto: isso não afeta de forma alguma os novos fãs nascidos na internet de 2019, contudo SOMI carrega o título de queridinha da mídia há muito tempo, ao ponto de movimentar um culto em torno de suas participações televisivas. Isso porque em 2015, data que pontua as questões deste texto, ela participou da porta dos desesperados da JYP Ent. SIXTEEN, que impulsionou a nova onda de realities fundadores de grupos musicais e gestou o excelentíssimo TWICE. Após isso, a loirinha ainda passou pelo apoteótico, corrupto e brilhante PRODUCE 101, ao qual faturou uma das vagas e mostrou, em toda essa jornada, um pingue-pongue audiovisual.

Diferentemente de TWICE ou de grupos pós-PRODUCE como WEKI MEKI, ao passar mais tempo nessa ótica de desenvolvimento da mídia, o público teve com SOMI uma maior participação de sons e imagens que entregaram diversidade como filosofia. Ao encontrar um freio, mesmo que genuíno para sua marca, a consistência toma a forma de estagnação - que se transforma em apreensão e desinteresse perto da continuidade dos lançamentos da artista.


Isso permeia a forma como é analisada a carreira da cantora, porque é muito fácil desgostar do som produzido junto à YG Ent. baseando-se na memória de êxito de SOMI.

Tendo o cheerleader-ismo de Do It Again, o nugudão no último centavo corporativo de Dream Girls e a excelentíssima ultraprocessada Very Very Very como exemplos de competência, um álbum feito XOXO (em que a novidade é mínima por metade das músicas já terem sido lançadas e o restante seguir um padrão musical condensado) desnuda os limites da carreira da artista. A piada se encontra nesses limites não estarem ligados à produção, ao conceito ou à presença dos lançamentos, mas justamente em SOMI estar entregando tudo isso constantemente.

Podendo ter uma carreira de sucesso com qualquer som e qualquer imagem, SOMI caiu justamente nas mãos da companhia mais inerte do KPOP, cujo único tom definitivamente entrega a rebeldia juvenil e platinada que é perfeita para a garota, mas que em vista de cada lançamento põe em risco de não conseguir se sobressair no teste do tempo.

Vale considerar: se não fosse o poder publicitário da YG Ent. ou a jornada no calvário da loirinha, por quanto tempo duraria o chamariz desses lançamentos? Tentem encontrar no fundo da memória a carreira de AleXa e tenham aí essa resposta. 

É importante questionar como uma empresa que trabalha no automático torna perecível uma carreira de sucesso. Outros muitos grandes nomes da indústria, como Jessica Jung, foram varridos pra debaixo do tapete por se habituarem ao apreço do público em vez de um dinamismo de criação. Continuam grandes nomes - personalidades fortes -, sem ninguém sequer lembrar que têm uma carreira musical.

Entretanto, essas preocupações não diminuem o talento ou os acertos de SOMI, que traz pra mesa uma grande vitória com XOXO. A música, apesar de pautada pela mesma mente uníssona de Lovesick Girls e On The Ground, é executada com imensa naturalidade. É platinada, jovial e inconsequente como a imagem eufórica que JEON SOMI nos apresenta.

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