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sábado, 29 de junho de 2024

ROCKSTAR é LISA sem qualquer cafonice do BLACKPINK


    A notícia da separação de Schrödinger do BLACKPINK veio com imensa felicidade para aqueles que, como eu, esperam ver o brilho de cada uma dessas artistas ser amplificado e dinamizado em suas próprias diretrizes, sem ser cegamente podado por um agenciamento mal instruído. Com a chegada de uma nova carreira para LISA, sob direção da empresa LLOUD Co., encontramos o melhor dos dois mundos – ROCKSTAR carrega assinatura familiar ao grupo, de uma maneira fashion que não foi ousada fazer no passado.

 

Se fôssemos justos com o “de onde veio e como era”, a existência do BLACKPINK deveria ter sido vista como um problema. Melhor ainda (e retraiam as garras!), como fogos de artifício: cor e brilho encantadores baseados em uma fórmula anciã. Isso, entretanto, não poderia ser dito às participantes do grupo, o que é um acaso particularmente fascinante. JENNIE, JISOO, LISA e ROSÉ foram espetaculares em seus papéis e não muito diferentemente esperamos que a simpatia e eficiência tome conta de seus lançamentos no processo de independência.


    Em grande parte, sob o olhar reprimido que o público pode ter da administração de uma empresa, mais pareciam ser elas (em competência, estilo e conexões) construtoras de suas carreiras que artistas ancoradas por uma companhia de calibre. Numa média aritmética, BLACKPINK estabeleceu um catálogo de músicas e visuais monotemáticos advindo do ciclo de lavagem de roupas em que a empresa geradora, YG Entertainment, se encontra desde sua criação. Cada grupo é uma remontagem dos acertos (e misteriosamente de algumas tolices) dos antecessores, tornando o conteúdo exponencialmente irrisório ao impor valores de mercado sobre distinções artísticas.

    Com ROCKSTAR não há a implosão de um recurso limitado no refrão (ainda que aqui este permaneça simples e saboroso, feito um mise en bouche), cacofonias ou vagueza lírica. Do contrário, a música é perfeitamente funcional por conta própria (deliberadamente a necessidade para um single ocupar), como também adiciona à moda extensiva das roupas e do clipe, irradiado pela visão futurística da Tailândia – construída pelas fachadas iluminadas das lojas que é amplificada pelo contraste e gradação de cores das cenas, remetendo aos cenários noturnos de jogos de videogame ou à visualidade cinematográfica asiática da metade dos anos 1980 para encontrar sua fórmula rebelde, ansiosa e energética, puramente fashionista.

    A canção, é claro, não foge disso. Enquanto sua versão de rock é alegórica, talvez seja este o pulo do gato. Orbitando uma ideia de idolatria, ao assumir um sucesso estrondoso, LISA se põe no topo da cadeia alimentar e acata essa rebeldia roqueira. Tal comemoração, por exemplo, é o que faz de 360, música que abre o álbum BRAT, de Charli xcx, tão interessante, e traz as duas artistas a essa ideia do hedonismo existencial sobre a própria imagem.


    Ainda assim ROCKSTAR não se resume ao egocêntrico. Apesar de entendermos os participantes da indústria musical como ídolos e seus derradeiros impactos ao público como fanatismo, a escolha do inglês é fundamental para globalizar, no espectro capitalista, um convite celebrativo a quem LISA é e a carreira que ela construiu, que se revela pela nomeação culinária e geográfica asiática ou mesmo à escolha linguística do japonês para uma brincadeira rítmica, que junto ao instrumental pode ser vista como inspirações ao estilo dos grupos Teriyaki Boyz ou m-flo.

    Contudo não podemos admirar aos montes sem admitir que aqui há um desleixo estrutural do que é e o que inclui o single (enquanto álbum mínimo). Ao lançar versões digitais exclusivas com múltiplas capas, deve-se parar pra pensar “pra quê?”. Qual a funcionalidade, afinal? Se a única resposta plausível é a de que a capa principal, lançada majoritariamente no horizonte faz LISA com um mullet parecer o Tiririca vestido de papagaio na casa da Hebe, o problema de expandir demais por pura ganância entra em jogo. Nem mesmo falar sobre a sustentabilidade dessas adições é possível (em parecer a seus lançamentos físicos, como seria com múltiplas versões e photocards, por exemplo), já que lançamentos digitais também requerem espaço de armazenamento, servidor e dispensa energética. Ganância é o que sobra e essa não é a melhor das notícias.

    Podendo pensar nas reinvenções dos álbuns-singles entre os anos 1980 e 2000, não há aqui diferentes remixes, intervenções artísticas (caso não as fotografias das capas) ou novos acessos, como uma versão específica que contém um registro para um site. Poderia ter tudo sido enfiado num encarte digital em PDF e circulado adiante.

    Quando se critica o exagero do kpop, que aqui comportemos da mesma forma. O single não agrega muita coisa. A extensão da música não soma, arrasta, e as últimas duas faixas são edições de pouco mérito, ainda que surfando na onda das edições de fãs no YouTube. É isso mesmo que o trabalho oficial deveria entregar aos espectadores?

    Ficam todas essas interrogações que não assustam o resultado final: é estilizado e sob medida como a roupa ornada em uma passarela. Um ótimo anúncio de retorno para a estrela.


ROCKSTAR (2024) - LISA | LLOUD Co., RCA Records
prós.: direto ao ponto, fashion.
cons.: todo o restante do single cai no demérito do enche linguiça.
★★★4/5
👍

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